LIVRO: JOGOS VORAZES



O grande mérito do livro é ter uma leitura fácil e envolvente, mas ao mesmo tempo tratar de um assunto tão tenso e reflexivo. A história realmente dá viés para várias discussões. O livro é para entreter, tem 400 páginas e mesmo assim pode ser lido em dois dias. Mas o que ele conta ressoa de tal maneira na cabeça do leitor que não perde pontos por ser mais um best-seller no mercado literário e cinematográfico.

O mundo criado por Suzanne Collins é único. Tudo ali possui um motivo de ser e contribui para a história; nada é escrito em vão. Cada distrito é especializado num ramo: o 12 é das carvoarias, o 7 é da madeira, o 4 é da pescaria... E todos fornecem seu material para a Capital. Bacana perceber como é a dinâmica entre os distritos e a Capital, pois é parte da essência da história, e compreendê-la solucionará alguns pontos da trilogia. 

Os personagens são maravilhosamente bem construídos. Tanto psicologicamente, quanto visualmente. Como o livro é descritivo (sem nunca ser tedioso), o leitor é introduzido muito bem ao meio externo e ao interno: ao ambiente, ao funcionamento daquela sociedade e à cultura, ao psicológico dela.

Também há a parte em que os Jogos Vorazes são narrados. Metade do livro conta como Katniss chegou até a arena, explicando o processo pelo qual os tributos passam até enfim entrarem em ação: os treinamentos, o reconhecimento dos outros tributos, a formação de alianças e de patrocinadores, a descoberta de uma plano tático... E a outra metade conta como foi os Jogos Vorazes em si.

Quem narra é Katniss em primeira pessoa, o que poderia deturpar um pouco a visão de como os Jogos transcorrem. Porém, achei uma forma muito válida da autora passar como é o sentimento de sobrevivência, e também os pensamentos de alguém que é extremamente contra o sistema e contra a desnecessária brutalidade que envolve a realidade. Com um narrador imparcial, seria muito pouco provável que o livro transmitisse ao leitor a sua intenção e sua mensagem.

Gosto muito do símbolo do tordo. Ele é uma variante do Gaio Tagarela, um bestante (animal artificial criado pela Capital, geralmente mortal) utilizado nos tempos da rebelião para transmitir as vozes dos rebeldes e, assim, a Capital ter acesso aos planos do adversário. Depois de sufocada a rebelião, os Gaios foram soltos na natureza e, para sobreviverem, cruzaram com outra espécie de pássaro, surgindo assim o tordo. Não possuindo mais a habilidade de transmitir vozes, os tordos conseguem reproduzir os sons de uma música/um assobio etc. Aqui na história ele transmite a mensagem de boas notícias, de sobrevivência: além de ser fruto da sobrevivência dos Gaios, ele também é utilizado pela Katniss para informar ao seu aliado que ela estava viva. Também há a personagem Rue que transmitia aos seus companheiros de trabalho o final do expediente (que consistia em horas e horas debaixo de um sol escaldante num pomar - o distrito 11 é especializado na agricultura).

Também acho válida a mensagem de superação. Somos acostumados a nos subestimar sempre que estamos diante de algum desafio que apresente um obstáculo maior. A Katniss enfrentava ali nos Jogos oponentes muito mais fortes e bem treinados, o que sempre repercutiu de uma forma negativa em seus pensamentos.

Já o romance não é tão desenvolvido nesse livro, pois a tática dentro dos Jogos impediu isso num primeiro momento, que é esse primeiro livro. Aqui desenvolve-se mais o romance entre Katniss e Gale (o melhor amigo dela), que particularmente acho sem graça. Prefiro mais o romance que depois será construído entre Katniss e Peeta (o outro tributo do distrito 12), apesar de nesse primeiro livro ter alguns momentos bregas com estes dois. Mas fora isso, não tenho nenhuma ressalva para fazer contra a história. Eu amei esse livro, e é muito difícil escrever sobre um livro tão diferente e bom.

RESENHA:

Mistura de ficção científica com reality show, passando pela mitologia e pela filosofia com muita ação e aventura, Jogos vorazes é o novo fenômeno da literatura jovem. Com um mote surpreendente, o livro, que está há mais de 85 semanas na lista de mais vendidos do The New York Times e de outras publicações de prestígio dos EUA, ganhou elogios de Rick Riordan, Stephenie Meyer e outros formadores de opinião e rendeu à autora Suzanne Collins lugar na badalada lista de 100 personalidades mais influentes do ano da revista Time.

Ambientado num futuro sombrio, Jogos vorazes é pioneiro de uma tendência que vem ganhando força no mercado de best sellers juvenis: a dos romances distópicos e pós-apocalípticos. Primeiro volume de uma trilogia, o livro narra uma luta mortal encenada por crianças e transmitida ao vivo para todos os habitantes de uma nação construída sobre as ruínas de um lugar anteriormente conhecido como América do Norte. Com sua narrativa ágil e ousada, Jogos vorazes foi traduzido para mais de 30 idiomas e vem atraindo leitores de diversas faixas etárias.


Constituída por uma suntuosa Capital cercada de 12 distritos periféricos, a nação de Panem se ergueu após a destruição dos Estados Unidos. Como represália por um levante contra a capital, a cada ano os distritos são forçados a enviar um menino e uma menina entre 12 e 18 anos para participar dos Jogos Vorazes. As regras são simples: os 24 tributos, como são chamados os jovens, são levados a uma gigantesca arena e devem lutar entre si até só restar um sobrevivente. O vitorioso, além da glória, leva grandes vantagens para o seu distrito.


Quando Katniss Everdeen, de 16 anos, decide participar dos Jogos Vorazes para poupar a irmã mais nova, causando grande comoção no país, ela sabe que essa pode ser a sua sentença de morte. Mas a jovem usa toda a sua habilidade de caça e sobrevivência ao ar livre para se manter viva. As reviravoltas do jogo e as dificuldades enfrentadas pela protagonista levam os leitores a sofrer junto com ela, enquanto descobrem um pouco sobre seu passado e seu relacionamento com Peeta Mellark, o outro tributo enviado pelo Distrito 12 para lutar nos Jogos Vorazes.


Inspirada pelo mito grego de Teseu e o Minotauro e bebendo nas melhores fontes da ficção científica, Suzanne Collins faz uma dura crítica à sociedade do espetáculo atual e prende a atenção do leitor da primeira à última página com um romance envolvente e perturbador.