Recentemente assisti ao filme "Mary and Max: Uma Amizade
Diferente" no Netflix, o filme aborda o autismo e a solidão de forma
bastante sensível, utilizando a delicadeza e a sutiliza do stop motion,
“A vida de todo mundo
é como uma longa calçada. Algumas são bem pavimentadas, outras têm fendas,
cascas de banana e bitucas de cigarro”.
Com essa frase em seu
roteiro, o filme “Mary and Max – Uma Amizade Diferente” (Austrália, 2009) nos
mostra exatamente as dificuldades que somos obrigados a encarar durante a vida.
Com um cenário praticamente preto e branco e personagens nada fofinhos, este
definitivamente não é um filme para crianças.
A história gira em
torno de dois personagens. Mary Dinkley que é uma menina de oito anos gordinha
e solitária que não tem amigos e que vive no subúrbio de Melbourne, na
Austrália. Max Horovitz é um judeu de 44 anos que tem Síndrome de Asperger (um
tipo de autismo) e vive sozinho na cidade de Nova York. Ignorada pelos pais,
Mary escreve uma carta para um endereço aleatório nos Estados Unidos com o
intuito de matar a sua curiosidade sobre a origem dos bebês. Assim, alcançando
dois continentes, ela conhece Max, que apesar da diferença de 20 anos em suas
idades, acabam descobrindo paixões em comum e continuam se correspondendo por
quase duas décadas.
Max pesa 160 quilos,
é viciado em cachorro quente e chocolate e seu sonho é morar na lua só para não
ter contato com as pessoas. Mary não recebe a atenção e o amor dos pais e seu
único amigo é um galo. Sua mãe, Vera, é uma mulher um tanto desestruturada
emocionalmente que se afoga na bebida e no cigarro e se refere a filha como um
acidente. E é justamente por essa falta de carinho e apoio que eles se apegam
tanto um ao outro.
Feito em stop-motion
com massinha e poucos diálogos, o longa apresenta temas bastante pesados como a
solidão, o suicídio, o alcoolismo, a obesidade e a depressão. Misturando drama
e humor sarcástico, o diretor e roteirista australiano Adam Elliot se inspirou
em histórias reais para compor seus personagens.
A trilha sonora instrumental
é um dos pontos fortes do filme. Mas a fotografia também foi muito bem
utilizada com apenas duas cores predominantes: o marrom, para o mundo de Mary,
propositalmente a cor preferida da menina, e o cinza para o universo de Max,
refletindo tudo que ele considerava caótico. É interessante notar também como
no meio desse universo de cores uniformes, os objetos que simbolizam a amizade
dos dois aparecem como os únicos coloridos e contrastantes com o cenário. Como
o retrato de Mary desenhado por ela mesma para presentear o amigo e o pompom
vermelho que Max usava em cima do quipá.
A amizade de Mary e
Max sobrevive a todos os altos e baixos da vida. Enquanto Mary cresce, Max
envelhece. E um apoia o outro em suas dúvidas e conflitos mesmo que nunca
tenham se visto pessoalmente. Mas, talvez, a característica mais bonita de
ambos seja a inocência. A dela normal de uma criança, acentuada pelos problemas
com a família, e a dele provocada pela síndrome. Essa característica faz com
que eles se compreendam incondicionalmente e não escondam ou manipulem seus
sentimentos, que são expostos por eles sem medo.
Através de uma
linguagem simples e com grande sensibilidade, o filme chama atenção para a
dificuldade de todos os tipos de relacionamentos humanos e nos faz refletir
sobre as diferenças e a importância de se conviver com elas. “Mary and Max” é
um filme emocionante que mostra de forma original e direta como a vida é
repleta de dificuldades e injusta aos nossos olhos. Mesmo parecendo um pouco
pessimista, o longa, na verdade, é uma lição de esperança que deposita na
amizade toda a força necessária para vencer as dificuldades impostas pela vida.
“Deus nos dá
familiares… Graças a Deus que podemos escolher nossos amigos”. (Ethel Mumford)
TRAILER:
NOTA: Eu gosto muito de animações tanto para crianças ou não, mas "Mary and Max" foi além das minhas expectativas por tratar de assuntos tão fortes de maneira sútil. E o que mais gosto de ver em animações que tratam sobre temas adultos é que de alguma certa forma por ser animação da uma amenizada, traz uma suavidade pros temas abordados para que não fique pesado demais.